Fiquei parado a observá-los por alguns instantes. Seus gestos e
feições, sua interação com os demais, mas seus sorrisos eram os mais
atormentadores para mim, não que eu não os quisesse sorrindo, mas por não
compreender em absoluto as razões de tal expressão.
Os meus pensamentos me dividiram em dois, o indagador e
observador silencioso: “Por que eles riem tanto?”, “O que lhes é tão
divertido?”, “Será que eles realmente querem sorrir, ou são apenas espasmos
involuntários, inconscientes?”, “O que os motiva, além claro, da corrida da
morte?”.
Os tormentos psíquicos se refletiram no corpo, senti fortes
dores no estômago, algo que me causou uma irritabilidade incontrolável como há
muito não tinha, mesmo assim o indagador, seguia:
“Quais são seus motivos?”, “Por que se submetem a algo que já
nem mais suportam, afinal, é possível ver a insatisfação ou o cansaço em seus
olhos primatas?”, “É esse o preço que têm seus valores?”, “Posso pagá-los para
que sorriam para mim enquanto jogo amendoim para eles?”.
Então, um espelho emergiu diante de mim, e as perguntas se
direcionaram ao corpo primata no qual me encontro aprisionado por vinte seis
tortuosos anos: “Quais são seus motivos?”, “Por que se submete a isso?”, não
houve resposta, apenas o vazio e o silêncio.
Todos aqueles que eu observava possuíam e possuem algum motivo:
têm filhos, têm planos, metas de longo ou curto prazo... Sem exceção, todos
possuíam no mínimo duas razões para suportarem a agonia de mais um dia, para
suportar ordens, até os motivos mais torpes (na minha burra concepção) é razão
para que eles acordem sorrindo, mas e quanto a mim?
Não sinto prazer algum em ver a noite tornar-se dia ao som
ensurdecedor de uma casa noturna, não sinto prazer real em ver animais
aprisionados em jaulas aos fins de semana, não sinto absoluta falta de uma
companhia para ir a cinemas, teatros ou algo parecido. Não sinto também, prazer
algum em ir a festas, não sinto faltas seja de bens ou de pessoas com uma única
exceção quanto a pessoas.
O meu prazer se limita às sensações físicas, sou apegado em
demasia aos prazeres e dores que os cinco sentidos me propiciam, mas eles
possuem intenções muito maiores que as minhas e quando os observo procuro
também em mim algum vestígio daquilo que eles parecem saber tão bem.
Todos eles encontram motivos para correr, suportar o pesar, e eu
não encontro mais motivos sequer para despertar, contudo ainda desvio dos
perigos, logo, esse vida ainda deve possuir algum valor para mim.
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