sábado, 27 de agosto de 2011

Solidão - A Alma Impar

Os últimos acontecimentos têm me oferecido maior período de tempo com minha amada, a solidão.

Lembro-me que desde muito novo possuo uma habilidade natural de me transportar para dimensões que me libertam de todo o desconforto ou angustia, uma habilidade de ficar só, ainda que em meio à multidão.

Nunca compreendi o pavor desses hominídeos – ao menos de grande parte deles – quanto ao ato de ficarem sozinhos. Eles criaram a ideia fixa de que sua felicidade pessoal gira ao redor de outros.

Algumas mitologias como a da alma gêmea, sustentam a ideia de que eles não podem viver felizes sozinhos, alegando que todas as almas foram divididas ao meio e condenadas à busca eterna pela sua outra metade.

Considerei por algum tempo a “necessidade” de ter alguém comigo, afinal todos a minha volta me diziam isso enquanto eu crescia.

Arrisquei-me por vinte e sete vezes, em tentativas frustradas de encontrar o afeto que segundo os humanos me daria sentido de existir e falhei, falhei miseravelmente em todas elas.

Em meio a desaprovação imposta por uma sociedade que não compreendia a minha real natureza não-humana, e que já considerava minha companheira, solidão como uma grave patologia acabei por encontrar algo realmente precioso, a amizade.

Sempre tive poucos amigos e só os procuro quando esses precisam de mim, não costumo estar por perto quando eles estão festejando, mas os guio até que possam festejar e isso sim me proporciona algum sentido.

E quando todos festejam simplesmente me recolho no mais profundo silêncio do meu quarto ou nas sombras das avenidas das cidades, mas sempre bem acompanhado por minha solidão.

Sigo sempre buscando descobrir novos meios de me sentir realizado, sem que ao final disso tenha que agradecer a alguém.

Poucos realmente conseguem saborear a solidão, a maior parte perde a sanidade em uns poucos dias, e aqueles que se mantêm sãos enxergam por fim o valor de ser a alma impar, sem amaldiçoar ou exaltar algo além de si mesmo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

[In]Finitude

É isso, sanei todas as excitações manifestas no corpo em que me abrigo.

Agarrei com força desmedida tudo aquilo que esse mundo me ofereceu, desfrutei das tecnologias, saboreei tudo o que me pareceu agradável ao paladar, admirei todas as formas de beleza, me deixei guiar por todas as ondas traduzidas pelo olfato, deliciei-me com as vibrações passeando por meus canais auditivos, retorci esse corpo de todas as formas anatomicamente possíveis em centenas de explosões do prazer.

E é só isso?

Repetições intermináveis, o apego por tudo aquilo que é efêmero ou transitório, eis a graça contida na vida vivida por de trás dos olhos humanos, cada qual a sua maneira, traduzindo ondas como lhe cabe ou como seus cérebros permitirem, mas é apenas isso e, nada mais...

Risos, prantos, dores, prazeres, pesares, gozos e outra vez risos, prantos, dores... É um emaranhado circular de situações e emoções instáveis que se somam, multiplicam-se, dividem-se ou subtraem-se e dá aos mortais a harmonia caótica desse mundo.

Eles sofreram, sofrem e sofrerão continua e indeterminadamente por toda a existência, eis o caminho irreversível da evolução, talvez, um dia eles se tornem criaturas melhores, mas não estáveis, afinal, nem mesmo o universo o é.