quarta-feira, 22 de maio de 2013

[A]normal


O que é ser normal?

Talvez, a tristeza comece quando alguém lhe diz quais roupas usar, quais canções ouvir, qual peso tu deves ter, qual filme tu deves assistir, como deve se comportar e quando deves ou não sorrir.

E para sentirem-se aceitos eles aceitam, e sofrem quando não se encontram nesse determinado padrão, pois a maior parte não quer ser único.

Esse é o normal? Seguir a massa? Ser apenas mais um?

Toda vez que enxergo algo deles em mim é como se todos os meus ossos fossem esmagados ao mesmo tempo, uma dor lancinante que me corroí o peito e espreme minha garganta, afinal, custei a perceber o valor da diferença e agora que conheço, não há nenhum anseio em ser normal.

Por isso, não lamente por minha solidão ou tristeza, estou bem como estou (diferente e distante de toda essa tralha inútil), pois a minha diferença me causa um orgulho que ameniza um pouco toda essa dor.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Fatal


Poucos conseguiriam suportar o peso, por isso é melhor evitar o contato, me privo da aproximação, pois o que tenho é um vírus contagioso, destrutivo, doloroso, incurável e crescente chamado: ideias.

Por que sorrir? Por que alimentar os sonhos? Por que acreditar em mitos? Por que não querer abrir os olhos?

Nasci com essa “maldição”, que foi crescendo e me tomando inteiro. Hoje, cada célula desse corpo está contaminada, sou incapaz de enxergar as cores do mundo e sem a ajuda de anestésicos a dor que esse vírus me causa se torna insuportável, já sou todo ideias.

Todo vírus precisa de novos hospedeiros e nas palavras que falo ou escrevo, há uma dose cavalar desse vírus, dose suficiente para contaminar o globo inteiro, ficar sozinho e em silêncio foi a solução para evitar o contágio, mesmo sabendo que uma epidemia seria bem-vinda, mas não é justo eu transmitir essa minha visão tão crua e fria do mundo.

Quantos deles suportariam ver o mundo como eu vejo?

Por que destruir um sorriso? Por que despertá-los dos sonhos? Por que destruir seus mitos? Por que querer lhes abrir os olhos?

Eles estão tão bem assim, estão melhores sem ideias.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Mestres


Existe um grupo entre eles que me desperta profunda admiração e respeito, um grupo responsável por educar aqueles que mal compreendem o mundo que os cerca, um grupo que dá o necessário e não o desejado, eu chamo os componentes desse grupo de mestres.

Eles fazem o melhor que podem, dão horas de sua existência para transmitir aquilo que viram e viveram, contam histórias para que não haja repetições de erros, contam estórias para que haja reflexões, falam das diferenças para que haja respeito, transpiram até a ultima gosta de suor para formarem homens e mulheres dignos.

Os mestres aos quais me refiro possuem profundo afeto por aquilo que fazem e possuem também, consciência do valor de seu trabalho quando fazem disso profissão, afinal, também me refiro aos mestres “amadores”, aqueles que sentam próximos a um grupo de crianças e lhes contam sobre a vida, aqueles que não possuem a obrigação fraterna, mas tomam para si toda uma geração.

Vejo esses mestres na arte, na literatura, nas ruas e, sobretudo nas escolas, trajados de professores.

Desejo para esses verdadeiros mestres o reconhecimento que merecem.

domingo, 19 de maio de 2013

Gol!


É dia de jogo, milhões se reúnem numa razão em comum, os olhos e ouvidos se concentram de maneira quase sagrada, qualquer intromissão será devidamente recriminada, afinal, essa grande partida vai ser o assunto das mesas acéfalas por semanas a fio.

Quem pode dizer que a emoção não é real?

Os gritos eufóricos, desesperados e comemorativos estão ai para mostrar o quão real ela é. Eles realmente sentem cada passo, cada deslize, cada falta cometida, cada gol perdido e expressam em voz alta cada sensação.

E então vem a vitória, e todos saem para as ruas, eles querem comemorar, mostrar que são representados por um time vencedor, eles querem mostrar que fizeram a escolha certa, a escolha que vence sempre (ou quase), mas que é a melhor.

Esses acéfalos, tempos depois de toda a euforia vão exigir melhorias na saúde, na educação, na renda do trabalhador, na justiça, porém, num grupo muito menor do que aquele que saiu para comemorar uma tola vitória, num grupo muito menor do que aquele que lota estádios ou interdita linhas telefônicas para votar num show nada real.

Mas eles estão satisfeitos, ou simplesmente merecem aquilo que têm.

sábado, 18 de maio de 2013

O Peso De Uma Imagem


É possível vê-los sufocando-se em suas mentiras sociais, perdendo-se em suas faces, esquecendo o que são, matando o que foram, vivendo uma ilusão que são incapazes de sustentar.

Expostos aos olhos alheios eles são o que convém, ocultando vontades, omitindo verdades, lapidando sua imagem para nutrir o desejo inato por aprovação. Cada rejeição uma nova memória para melhor moldar a próxima face, para exibir ao mundo e ser aceito.

São tão gentis e educados, felizes e ponderados, são tudo o que um outro precisa ser.

É o que esperam passar: “olhem pra mim, vejam como sou feliz!”

Somente na escuridão de si mesmo eles são o que precisam ser, matando suas vontades, gritando verdades, libertando-se do peso daquela imagem que criaram para sobreviver em sociedade.

É o que eles não conseguem negar: “espero que ninguém me veja agora, seria vexatório.”

Quase sempre o peso que eles sentem é apenas resultado das imagens que criaram, das mentiras que contaram e das verdades que negaram para receberem assim, o abraço de uma sociedade hipócrita.

Eles são eles mesmos, totalmente livres e leves somente dentro de suas mentes.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Longe De Onde?


A maior parte das pessoas teme a solidão, elas querem agarrar-se ao outro, construir uma história e passar os finais de suas vidas recordando o quanto valeu cada bloco de lembrança que assentaram em suas vidas.

Não vejo nenhum equivoco em tal atitude, mas ainda que uma companhia agradável seja de fato prazerosa, nada me parece tão libertador quanto a solidão. Você pode possuir milhões de amigos e ter centenas de relacionamentos, mas ser casado e fiel à solidão.

Vejo em muitos casais a morte das próprias vontades, eles se sentem sufocados pelos desejos um do outro, pelas obrigações de um relacionamento e acabam por sufocar ainda que brevemente seus próprios anseios, poucos são os casais nos quais observo cumplicidade e um respeito mutuo para com os momentos individuais de cada um.

Alguns se casam, outros morrem.

Alguns perdem desejos ou os mantém quando estão distante dos olhos do outro, tornando-se assim a figura real do traidor. Eles querem sentir outra vez a liberdade que a solidão e somente a solidão proporciona.

Solitário não é aquele que não possuí amigos ou aquele que não se afeiçoa, mas aquele que não se aprisiona, aquele para o qual não existe distancia, nada é longe demais para o solitário, ele é livre para ir e vir, não se deixa amarar por vínculos transitórios, mas reconhece o valor deles.

Para os dependentes do outro uma viagem pode ser longe demais, o solitário apenas pergunta: “longe de onde?” e se vai.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Que Me Resta


Nada me acalma com mais facilidade que caminhar solitário, sem rumo e sem a preocupação com o regresso. Outra maneira que uso para ajustar as emoções impostas por essa tempestade bioquímica é sentar sob uma árvore, num banco em uma praça ou parque, observar os filhotes desses homo sapiens e imaginar que o futuro pode ser melhor.

Eles são puros, espontâneos, sinceros, eles ainda não aprenderam que mentir é um dos princípios básicos para se viver bem em uma sociedade decadente e supersticiosa.

Não é que eu superestime as crianças, pelo contrário, até acho um equivoco absurdo por a criança no centro da família, pois vejo que isso tem resultados desastrosos criando adultos incapazes de ouvir um não, seja da vida ou de outra pessoa, mas deposito nelas meus últimos resquícios de fé.

Vejo em seus olhos a possibilidade de humanos melhores, afinal, ainda são moldáveis no que diz respeito à educação, ainda é possível lapidá-los e fazer da pedra bruta, homens e mulheres pensantes, dotados de alguma razão.

Talvez, seja apenas uma ideia infrutífera, uma esperança inútil, mas se eu deixar de acreditar que isso ainda é possível não terei mais fé alguma e respirar já não teria sentido.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Diga Não A Deus


Deus, uma invenção estúpida para estúpidos.

Durante algum tempo deixei de lado levantar críticas ou expor ideias mais enérgicas quanto ao mito, em especial do Deus cristão, mas os cristãos não deixam isso trancado com eles ou dentro de seus círculos familiares, eles querem evangelizar, querem que o mundo acredite na basbaquice que eles acreditam.

Carregam em suas mãos ou sob suas axilas um livro primitivo, repleto de contos, relatos, mitos e fatos ocorridos em uma época remota, onde um povo subdesenvolvido ainda estabelecia meios para sobrevivência. Um livro repulsivo para qualquer um que tenha o mínimo de inteligência e decência.

Nada me incomoda mais que o proselitismo, onde alguém sugere que você abandone seus costumes diários para servir e seguir uma doutrina inútil (como são todas), condenando-o severamente caso rejeite tal ideia, afinal, quase todas possuem formas de castigo aos não seguidores da doutrina como, o belo inferno criado pelo Deus cristão em sua infinita bondade.

Por que está tão certo?

O mundo possui milhares de crenças e costumes, milhares de deuses e entidades sobrenaturais. Mesmo assim, poucos desses primatas conseguem ser coerentes:

Ou acredita-se em todos os deuses e mitos ou não se acredita em nenhum deles, afinal, que diferença há entre os mitos senão, o que você acredita e o que o outro escolheu acreditar?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Dor

“Talvez eu seja um monstro egoísta, tomando unicamente para o meu corpo todas as dores que o mundo sente, talvez eu seja só mais um doente da mente, perdido em minhas mil faces e incapaz de me encontrar em meio a tanta tralha mental.”

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Macacos


Macacos, eles possuem lá a sua graça, são divertidos, brincalhões e suas idiotices me despertam alguns risos, mas como são irritantes, gritam se debatem e na primeira oportunidade vão roubar algum objeto seu e sair correndo, vão atacar-te sem motivo aparente, mesmo assim os achará divertido, afinal, são apenas macacos, não há razões para zangar-se com criaturas tão rudes e primitivas.

Afinal, quem é mesmo o evoluído?

E é exatamente assim que os humanos me parecem, e pelas mesmas razões que os humanos voltam aos zoológicos para verem os macacos é que volto para manter com eles algum contato.

Gosto de passar horas observando seus costumes, suas crenças tolas e irritantes, seus berros para decidirem quem possuí ou não razão argumentativa. Gosto de ouvi-los mesmo quando (quase sempre) tratam de assuntos supérfluos e até desagradáveis para mim, estar entre eles me traz uma infinidade enorme de sensações da cólera à compaixão.

São rudes, primitivos, mas me divertem e me despertam grande curiosidade.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sobre Eles, Mas Sobre Mim


Fiquei parado a observá-los por alguns instantes. Seus gestos e feições, sua interação com os demais, mas seus sorrisos eram os mais atormentadores para mim, não que eu não os quisesse sorrindo, mas por não compreender em absoluto as razões de tal expressão.

Os meus pensamentos me dividiram em dois, o indagador e observador silencioso: “Por que eles riem tanto?”, “O que lhes é tão divertido?”, “Será que eles realmente querem sorrir, ou são apenas espasmos involuntários, inconscientes?”, “O que os motiva, além claro, da corrida da morte?”.

Os tormentos psíquicos se refletiram no corpo, senti fortes dores no estômago, algo que me causou uma irritabilidade incontrolável como há muito não tinha, mesmo assim o indagador, seguia:

“Quais são seus motivos?”, “Por que se submetem a algo que já nem mais suportam, afinal, é possível ver a insatisfação ou o cansaço em seus olhos primatas?”, “É esse o preço que têm seus valores?”, “Posso pagá-los para que sorriam para mim enquanto jogo amendoim para eles?”.

Então, um espelho emergiu diante de mim, e as perguntas se direcionaram ao corpo primata no qual me encontro aprisionado por vinte seis tortuosos anos: “Quais são seus motivos?”, “Por que se submete a isso?”, não houve resposta, apenas o vazio e o silêncio.

Todos aqueles que eu observava possuíam e possuem algum motivo: têm filhos, têm planos, metas de longo ou curto prazo... Sem exceção, todos possuíam no mínimo duas razões para suportarem a agonia de mais um dia, para suportar ordens, até os motivos mais torpes (na minha burra concepção) é razão para que eles acordem sorrindo, mas e quanto a mim?

Não sinto prazer algum em ver a noite tornar-se dia ao som ensurdecedor de uma casa noturna, não sinto prazer real em ver animais aprisionados em jaulas aos fins de semana, não sinto absoluta falta de uma companhia para ir a cinemas, teatros ou algo parecido. Não sinto também, prazer algum em ir a festas, não sinto faltas seja de bens ou de pessoas com uma única exceção quanto a pessoas.

O meu prazer se limita às sensações físicas, sou apegado em demasia aos prazeres e dores que os cinco sentidos me propiciam, mas eles possuem intenções muito maiores que as minhas e quando os observo procuro também em mim algum vestígio daquilo que eles parecem saber tão bem.

Todos eles encontram motivos para correr, suportar o pesar, e eu não encontro mais motivos sequer para despertar, contudo ainda desvio dos perigos, logo, esse vida ainda deve possuir algum valor para mim.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

À Morte


A morte, o silêncio absoluto que apavora e motiva os mortais, sem a qual a vida não teria valor algum para o vivente, e por essa razão, os mortais deveriam ser mais gratos à morte. Mas eles preferem negá-la, rejeitá-la ou superá-la em seus contos e mitos.

O progresso lhes trouxe o ego, e então, eles criaram a eternidade, algo para superar o único deus existente: a morte.

Como eles poderiam viver sem a única coisa que os move?

Eles correm, mas não pela vida, eles correm pela morte, a alavanca que os faz criar planos, que os faz criar prazos e sentidos para a existência.

Sem a morte os mortais não seguiriam rumo ao progresso, rumo a revoluções para que possam ter tempo disponível para apreciarem melhor as paisagens da vida. Sem a morte não haveria temor e sem temor eles não correm dos perigos e sem correr dos perigos eles não criariam abrigos, ferramentas e maneiras de afastarem de si a atormentadora ideia de fim.

Sem a morte os seus prazeres seriam adiados pela tola ideia de um amanhã eterno, eles não viveriam mais, as emoções seriam esquecidas, as memórias seriam perdidas e eles não mais seriam.

A eternidade os mataria em vida, transformando-os na mais burra imagem já criada: deus.

Eles só querem viver porque morrem.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Traidores


A ilusão parece agradá-los, eles odeiam mentiras, mas não vivem sem elas, e em suas relações interpessoais isso fica cada vez mais claro. 

Eles não se envolvem com outras pessoas, mas sim com suas projeções sobre outro, por essa razão eles sofrem e se frustram quando a pessoa por trás da ilusão emerge de fato, revelando apenas um ser humano e como tal, falho.

Eles esperam do outro aquilo que nem mesmo eles possuem, mas que gostariam de ter ou ver, e eles querem o infalível, eles querem o ideal, eles querem o impossível, mas eles não querem se machucar ao fantasiar.

Eles ainda se sentem traídos, mas traídos por quem, senão por eles mesmos ao colocarem sobre o outro suas fantasias infantis de perfeição?