domingo, 24 de abril de 2011

Memórias – Sombras do Passado

Enquanto as águas salgadas eram inevitavelmente tragadas pelo corpo, que hoje assumo, seus pensamentos eram bilhões de vezes mais velozes que o habitual. A tal ideia de que toda a vida lhe vem à mente nos momentos que antecedem a morte não é mera conjectura.

O que realmente me era de valor apresentou-se ali, família, amigos, mas acima estávamos eu e minhas lembranças que afinal, moldaram aquilo que sou hoje.

Fui – a consciência – tragado para o nada absoluto após uma experiência muito particular e confusa.

Poderia ter acabado ali e não faria a menor diferença, não havia dor, fogo, salvação, mentiras, sentimentos nem nada daquilo que simule ou lembre a existência.

Fui acometido por uma serenidade que repouso algum me proporcionara.

A luz se apresentava aos olhos que se abriam vagarosamente e ofuscava um a um dos supostos valores: amor, deus, apegos entre outros – já tratava-se do ‘eu’ que vos escreve – as vozes me remetiam ao conto da babilônia, nada me parecia compreensível.

Fora levado pelas águas um humano malogrado possuidor de uma alma repleta de feridas e saíra de lá o intacto portador da luz.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Estertores

Eles não aceitam a natureza em seu irreversível caminho e se abatem por motivos poucos, porém sempre maiores que os dos outros, vêm em si o malogrado e nos outros seus culpados, auto-iludidos arquitetos de seu declínio.

Posso vê-los esmorecidos a amaldiçoar o próprio destino.

Eles cravam as mãos no peito para inutilmente amenizar seu desespero, elaboram mirabolantes conjecturas para justificar as amarguras, provenientes das projeções frustradas que seu orgulho incessantemente tece.

A razão por traz de suas dores e o anseio pela vasca da morte é a compreensão cega que têm da vida.

Eles sonham com amores eternos, com mundo cheio de flores, são egos desesperados pela satisfação dos próprios desejos, contudo são amnésicos à verdade transitória e sofrem a cada mudança indo aos extremos.

O que os leva a crer que a dor que sentem é maior que a de outro, que compartilha das mesmas composições? Só por que é a dor pessoal?

Escravos da própria ilusão de um éden póstumo, onde os sonhos anularão todas as dores, eles buscam no cotidiano ao menos a sombra disso e sofrem por que não a encontram.

Não importa o quanto e o que digam os seguidores de superstições, a felicidade é transitória como tudo o mais na vida desses hominídeos.

A ideia de uma eternidade de glória é apenas uma forma de dizer a si mesmo que sofrer aqui e agora vale à pena, afinal eles não conseguem abandonar o egoísmo e precisam ter seus anseios atendidos seja na vida, seja na morte.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Servo

Não há evidencias de vida inteligente em outros planetas, a ciência – ainda que limitadas desses hominídeos – tem provado isso a cada expedição frustrada e mesmo assim eles parecem se reduzir a nada: O Valor De Suas Vidas.

Por que me incomodam tanto suas ações brutas e burras, afinal, são eles os prejudicados? Por que ainda me importo quando nenhum deles parece se importar?

Estou entre eles já faz algum tempo, talvez eu tenha desenvolvido algum apego por todos – mesmo por aqueles que, não conheço – afinal, eles são mesmo animais fascinantes.

Isso justificaria meu incomodo crônico?

Eles passam por mim com uma frieza assombrosa, trancafiados em um mundo exclusivo, com problemas e pessoas exclusivas e excluindo todo o resto.

Se eles que pertencem à mesma raça pouco fazem por eles mesmos por que eu devo me ferir tanto assim com problemas que são unicamente deles?

O abrir dos olhos feriu-me com mais gravidade que minha queda.

Quando digo que não consigo amar – de modo romântico – uma única pessoa não é exagero é um fato com o qual procuro me conformar, contudo o efeito colateral disso talvez tenha sido um altruísmo desmedido, porém sem sacrifícios.

Eu lhes sirvo de inimigo quando os vejo acomodados, lhes sirvo de amigo quando estão desconsolados, sirvo de amparo, obstáculo, sou o algoz e a sentinela eu sou apenas o servo eterno dessas criaturas que rumam à decadência.