sábado, 29 de janeiro de 2011

Fim Do Milagre, Um Ato Cruel

“_Minha mulher não tinha movimento do pescoço para baixo após o acidente, os médicos disseram que ela nunca voltaria a andar, mas uma ‘irmã’ leu ‘a palavra’ para minha mulher – as duas eram amigas a mais de 18 (dezoito) anos, e disse que Deus iria enviar um sinal de que ela voltaria a andar dentro de quinze dias.”

Ele tomou fôlego como quem não respirava por um longo período e continuou:

“_Passaram-se os 15 (quinze) dias e nada, minha mulher estava cheia de fé a espera do sinal, 21 (vinte e um) dias após ‘a palavra’ ela mexeu o dedão do pé, e novamente ‘a palavra’ dizia que Deus a faria voltar a andar antes do final daquele ano e antes do final daquele ano ela voltou a andar.”

E após todo esse testemunho que ouvi atentamente e, onde ele – o símio que lidera minha equipe – enfatizava: “isso aconteceu na minha vida”, veio a pergunta:

“_Como você explica isso, se não foi Deus?”

O olhei fixamente, esbocei um sorriso e apenas lhe disse: “_Eu tenho a resposta, contudo seria extrema crueldade de minha parte dar-te a resposta, uma vez que noto em seu fervor uma gratidão descomunal ao que você chama de Deus.”

Ele – símio fiel – incrédulo de que eu havia de ter uma resposta disse-me: “_Pode dizer, o que você acha que é.”

“_Primeiramente não tenho por base em minhas respostas o ‘eu acho’, procuro estar convencido daquilo que digo até que me provem o contrario e nesse caso segundo sua descrição do ocorrido o efeito placebo se adéqua perfeitamente na resposta para isso que chamara de milagre.”

Percebi certa confusão que se confirmou quando ele me questionou sobre o que seria esse “efeito placebo”. Detalhei o que sei sobre e usei ainda de seu “testemunho” para enfatizar a ação do placebo:

“_Num efeito placebo, a confiança na qual o enfermo deposita em seu ‘curador’ é de extrema importância para o sucesso do efeito e, nesse caso havia muita em jogo, primeiramente a confiança de sua mulher em Deus e posteriormente a amizade de longo tempo, sua mulher estava convencida da veracidade. Sem falar no medo que ela tinha de perdê-lo e isso praticamente a obrigava a se curar.”

Notei sua expressão mudar, seu sorriso – certo de que não haveria uma resposta convincente – tornou-se lábios comprimidos e um olhar de quem segura o pranto.

Finalizei dizendo:

“_Foi você quem pediu a resposta e, eu havia lhe informado que seria de extrema crueldade eu dá-la a você.” Ele se calou e retomou seus afazeres, sem mais uma palavra posterior.

Ocorreu um milagre em sua vida? Se fores menos egoísta reflita sobre a frase a baixo e reavalie o seu “milagre”:

Com tantas desgraças e problemas que assolam o mundo porque o tal Deus só ouvira o seu?

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