Enquanto o corpo que tomo emprestado mecanicamente repetia os movimentos exigidos para a labuta, o eu em essência pairava por toda a criatura que ali permanecia, buscando em suas memórias as razões que lhes levam àquela rotina.
Sonhos, desejos, obrigações ou apenas a mecânica inquieta desses mamíferos avançados?
O que de fato os leva para momentos distantes de seus reais anseios, apreços e tudo o que lhes realmente propicia algum prazer? Foi-me possível ver, alguns possuem planos, outros, obrigações, mas a maior parte, apenas responde a espasmos resultantes do processo evolutivo.
O sentido da vida para o grupo dos planos, parte de uma “ordem maior” – a vida deve ser mais do que simples espasmos, deve haver sempre algo para se conquistar. Embora isso seja inerente ao ser humano, no grupo dos “planejadores” esse principio é mais intenso.
O sentido da vida para o grupo das obrigações nasce com elas – os afazeres, eis a locomotiva que leva todas as ações desse grupo a diante, quase sempre insatisfeitos, mas amarrados por seus afazeres. As obrigações aparecem em todos os grupos, mas nesse, ela é a única razão das ações.
No terceiro grupo, o sentido da vida é apenas a vida, um processo de equívocos desmedidos e eventos aleatórios encaixando em suas histórias amores e dissabores sem qualquer ideal para o futuro incerto.
Não consigo, porém, enxergar o erro em nenhuma das citações acima.
Cada grupo segue como melhor lhe cabe, ou como se sentiu acomodado, poucos ousam romper limites ou regras tão latentes. Não há razões pra condená-los ou subjugá-los.
E ainda dentro de suas memórias me eram visíveis seus apreços, as lágrimas emergiram, mas logo se contiveram, afinal, aqueles sonhos não eram meus. Aqueles desejos, aquele vazio, aquela busca, nada era verdadeiramente parte de mim, eram apenas fragmentos de memórias alheias dissipadas no ar que pude captar pelo breve instante em que me vi por essência.
Voltando a mim, passei com os olhos mecânicos por todos a minha volta e podia notar o valor real de suas horas, os humanos costumam ver apenas um preço, contudo vejo algo muito maior.
Os humanos não se vendem por preço algum, mas se vendem sem notar por seus sonhos, deveres, anseios, e muitos outros e é dessa forma que se pode alcançar todos os “preços”.
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