Não fora a arma apontada para meu revés e eu, nem mesmo os itens furtados – carro, celulares, documentos e afins – ou os impropérios utilizados por aquele misero humano, mas a ausência de luz – compreensão – nos olhos daquele que poderia ter dado cabo de minha conexão com esse corpo e com a vida de meu revés.
Faltava-lhe algo e essa falta estava clara na escuridão de seu olhar. O que os leva a um ato tão irrefletido?
Será que há alguma razão por trás de todos esses atos? Não acredito no mal puro em nem uma das espécies animais existentes, tão pouco entre essa espécie – a humana – que se orgulha da capacidade extraordinária de raciocínio.
Todos eles possuem sua própria história e circunstancias vividas, que lhes oferecem os mais surtidos caminhos. Talvez esse miserável não tenha tido bons frutos e nem feito boas escolhas e então sua única alternativa tenha sido aquela que se apresentou para nós.
Se tudo tivesse acabado ali para meu revés ou para minha conexão, ele seria mais um monstro aos olhos da sociedade e até mesmo aos olhos desse corpo que tomo emprestado, contudo seria apenas mais uma cria dessa sociedade decadente.
Cria de um sistema penitenciário falido, que no lugar de punir e reeducar fortalece a cólera interna desses que se sentem desfavorecidos, cria de policiais corruptos que são crias de uma má remuneração criada pelo amor ao poder que por fim é estimulado por uma cultura consumista e fetichista.
A educação fora abandonada e os humanos se formam com seus instintos primários, onde o mais forte devora o mais fraco, onde uma vida vale o que se pode pagar, uns são libertos do homicídio pagando trezentos mil, outros com menos e quem não pode pagar é punido por furtar uma margarina.
Mas a alegria continua entre um mendigo queimado e outro seja no mundial, seja no carnaval os humanos ainda dançam e cantam numa omissão e conformismo incompreensíveis mesmo para mim.
Os humanos amam e porque amam são corruptíveis.
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