quarta-feira, 29 de junho de 2011

Resiliência

“_Você espanta as pessoas com o seu jeito”

A frase é uma velha conhecida minha, aos quatorze anos nessa existência a escutei de um colega de classe e hoje aos vinte e quatro, ela é pronunciada exatamente igual aquela de dez anos atrás, mas agora por um colega de trabalho.

Não sei se espanto as pessoas, sei apenas que me ponho em meu lugar.

Compreendo que para a maior parte dos humanos os bons vão para o céu, uma parte menor diz que nem ao céu e nem ao inferno. Sei que a maior parte foge da chuva e compreendo que poucos corram para senti-la no corpo cansado, para a maior parte das pessoas a solidão machuca, mas agrada uma pequena parte e eu não me encontro em nenhum dos grupos.

Entre a minoria e a maioria estou eu, um ser que se assemelha aos humanos sem sê-lo – ao menos como esperam – sou o solitário entre os solitários.

E minha solidão não é voluntária, apenas não compartilho dos anseios dos grupos que observei, logo, a solidão foi inevitável, contudo ela não me machuca e nem me agrada, apenas me oferece condições favoráveis – o silêncio é a mais nobre.

Não sei se há algum processo revesso – muito provavelmente não – mas estando numa mente e num corpo humano a resiliência é aplicável.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Reconexão Neural

Em um diálogo não muito recente deixei claro minha indignação com médicos que fazem uso dá expressão: “Ele não voltará mais a andar” e outras expressões que eliminam a esperança – única fonte de vida – desses frágeis hominídeos.

Recentemente li uma matéria que favorece minha confiança no futuro cientifico.

A partir da mistura da trombina extraída do veneno da cascavel, com o fibrinogênio do sangue de animais de grande porte, pesquisadores do Cevap, da Unidade Estadual Paulista de Botucatu, desenvolveram uma cola biológica.

Além de substituir a sutura em procedimentos cirúrgicos, auxiliar nos processos de cicatrização, o que mais me chama a atenção é seu futuro promissor na reconexão de neurônios.

É sabido pela classe médica que o desligamento de raízes nervosas ocasionado por acidentes – em geral com motocicletas – leva a morte grande parte dos neurônios, tendo por consequência a perda de funções motoras e de sensibilidade.

Os resultados dos experimentos feitos na parceria entre a Cevap e o Laboratório de Regeneração Nervosa da Unicamp são favoráveis graças à reabsorção da biocola, que se degrada no organismo e permite a recuperação de axônios e do sistema nervoso.

Tendo em vista um futuro iluminado graças aos avanços ininterruptos e constantes da ciência as expressões citadas no inicio dessa reflexão informativa não só tornam-se invalidas como, de profunda ignorância, a expressão mais coerente seria: “A medicina atual não garante que o paciente retome seus movimentos”.

Contudo a medicina do futuro pode garantir isso e muito o mais.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Meu Revés

Rodeado por um generoso grupo de amigos, rindo de piadas que não compreendo, entre um gole e outro de sua bebida favorita os abraços dos muitos que lhe querem o bem. Portador de um carisma admirável e uma emotividade muito maior que o próprio corpo, eis o meu revés.

Tudo o que desejei ser sem jamais consegui-lo.

Talvez isso seja a sombra daquilo que os humanos chamam de ciúme, afinal admito minha incapacidade com a relação interpessoal, mal consigo ser presente em meu limitado circulo de amizade, relacionamentos afetivos me são desastrosos e sou ainda pior quando o tema é humor.

Meu modo de agir, pensar e ser parece o oposto daquilo que os humanos dizem ser um bom estilo de vida – a solidão virou doença para esses hominídeos. A existência me parece vaga por muitas vezes, suas imposições cotidianas são falsas interpretações do essencial para uma vida plena.

E o que é essencial para tanto?

Meu revés não busca um propósito, uma razão para ser ou existir, ele está em paz com a ditadura da rotina. Ele possui uma adorável família e extenso circulo de amigos do qual ele cuida com um zelo quase maternal.

Ele sorri mais do que eu, ele sente mais do que eu, chora, ama, odeia e talvez até viva muito mais do que eu.