“Nossa, um carro me pegou de frente, fiquei internado,
sobreviver foi um milagres.”
“Dois tiros não saíram e o terceiro tiro pegou, mas não
perfurou profundamente, fui salvo por Deus.”
“Nossa, foi um milagre esse dinheiro extra, bem no momento
que precisava mais.”
“Os médicos falaram que ela não voltaria a andar, e em seis
meses ela andava quase normalmente, o que foi senão um milagre?”
“Não podia engravidar, mas graças à intervenção de Deus,
tenho um filho maravilhoso.”
Não é raro experiências como essas se espalharem pelo
cotidiano, todos possuem uma “estória” (ou mesmo história) miraculosa para
contar. Sempre escuto com absoluta atenção cada um desses relatos, pois são
ricos, ricos de uma vaidade e orgulho que não podem ser medidos.
Enquanto o relato do “agraciado” é feito, crianças estão
morrendo, sendo violentadas, passando fome, sofrendo a dor da perda de um ente
amado, sendo abandonadas e outras pessoas tão “preciosas” também perecem nas mãos
do acaso.
E cheio de orgulho o “milagre” se cala triunfante, com o
peito estufado de certeza de que há para ele algum propósito. E qual seria?
Absolutamente nenhum deles possui de fato uma resposta.
Os “milagres” com egos inflados em nível máximo preferem a
ideia de que são especiais, eles são importantes demais para alguém ou alguma
coisa. E as milhares de vidas que se perderam no mesmo instante em que eles (os
auto-proclamados “milagres”) foram salvos tinham menor valor?
Eles mal saíram da lama e já se enxergam no céu, olham para
o alto repletos de um orgulho que vomitam por toda a parte. Quantas “estórias” já
não contaram sobre intervenções miraculosas, sobreviventes improváveis de
situações extremas, ou o “impossível” acontecendo em uma vida ordinária?
Quanta presunção é necessária para que um misero individuo se
considere acometido por um milagre, ou pior, que se considere o próprio
milagre?
Eles são orgulhos demais, afogar-se-iam por toda a vida em
seus reflexos, não fosse o exemplo de Narciso.
Eles são um milagre?
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